23 março, 2010

gritos na noite


Apetece-me gritar, em voz muda estancada perante o teu rosto imóvel. Tenho de gritar-te para que repares em mim. Para que me vejas, me notes, me destaques. Porque não quero ser sombra por entre os demais, não quero ser um banco de jardim vazio na travessia, uma mala esquecida que se deixa para trás numa qualquer estação desta vida.


Queria ter cor. Queria mesmo ser luz.

Queria ter som, ter corpo, ser alguém. Ser A. Aquela. A que te povoa os sonhos, te prova os lábios de manhã, te consome o corpo de noite. Te encaixa, te pertence, te dá, te recebe. Te embala suavemente no peito, te faz amor devagar, nos lençóis da tua cama.


Eu queria.... e desejo-o, como um suspiro no coração, enquanto me diluo na noite escura e tu passas por mim sem me sentir o perfume, perdido que estás por entre a multidão de rostos que para ti fala...

15 março, 2010

é simples...


Gostas de mim?


É porque, sabes... eu gosto de ti.

11 março, 2010

Aqui


Aqui posso ser mentira e posso ser verdade.

Aqui, posso moldar o que é e o que não é, brincar de Deus, sorrir, chorar, mascarar-me ou romper o coração.

Aqui, posso amar às escondidas, desejar, inventar, sonhar os outros.

Posso saborear...

Ou posso simplesmente calar as minhas entranhas, vigiando-me as arestas que ameaçam desabar. Porque o Mundo não mas sustentaria, não.

Aqui... vive a minha fantasia.

Alimenta-ma. Sim? Aos molhos de cor. Vermelha, rubra de desejo.

05 março, 2010

entre sombras palpáveis e outras que não


Há vezes em que a distância parece apenas poeira nas nossas mãos.

Há dias em que o coração se engana pensando que pulsa do outro lado da estrada, da ribeira, da Terra, do Mundo.

Há momentos em que as palavras são bebidas com uma voracidade atroz, e nos engolem na ilusão de que nos são (só a nós) oferecidas.

Há alturas em que é preciso fazer da distância mentirosa uma distância real, e voltar a assentar os pés neste chão, e perceber que o que se quer nem sempre é.


Mas estou aqui. De novo.
Devagar.