02 outubro, 2009

a bagagem da memória


Confesso que não tenho tido vontade de escrever.

Pelo menos, que me é difícil escrever as palavras que me nascem nos dedos, porque as outras, as banais, essas não vos ofereceria, porque não me fazem sentido algum.

Acho que durante muito tempo andei perdida de mim, de quem sou. Oferecia a quem precisava pedaços de mim, dessa minha essência, os pedaços de que necessitavam. Em suma, era aquilo que de mim esperavam... ou talvez com um pouco de sal a mais. Ou a menos, dependendo do gosto, do paladar de quem me queria (fosse para o que fosse).

Estiquei-me, esforcei-me, dei-me mil e uma vezes, fiz da minha vontade bola e encurralei-a no meu peito, calei os sussurros que se transformavam em gritos, fechei os olhos para a imagem que o espelho me devolvia, esqueci-me de mim. Não é culpa de ninguém que não de mim mesma, não me soube amar com o coração inteiro, não me soube embalar no colo. Tinha afecto a montes para dar, mãos cheias de calor, carinho e ternura, ouvidos atentos para os choros de outrém, braços abertos para embalar, para ajudar, coração para nutrir. Mas não para mim.

Chega a um ponto em que o corpo se rebela, e nos mostra que não quer mais viver connosco.

E aí não dá mais para vendar a boca. É preciso procurar a origem, buscar no interior as respostas (que sempre, sempre estiveram lá).

Foi o que fiz; é o que estou a tentar fazer, meio perdida dentro de mim. A conhecer-me, a mulher de força que sempre, secretamente, admirei. A aprender a namorá-la, devagarinho, com cantigas à janela, à moda antiga. Com cartas de amor e mel, com pequenos presentes embrulhados em celofane.

Há tanta bagagem da qual ainda tenho que me libertar!.... e cansa, cansa muito aprender que, afinal, podemos ser nós mesmos, e dá-me um medo imenso de me mostrar.

Mas deste caminho já não arredo pé, por isso.... aturem-me!

3 comentários:

LBJ disse...

:)

Cá estamos para te escutar, para te ver, para te ler, nunca para te aturar e namora-te, tira-te cá para fora :)

Beijos

entrelinhas. disse...

solta pra cá as tuas bagagens. faz bem à alma.

RM disse...

EScreveste um pouco sobre mim... Ando meio perdida, soube-me bem amparar-me nas tuas palavras, obrigada!

Para ti, quando quiseres, estou por aqui!

Beijo grande