26 novembro, 2009

Carta a uma "celebridade" desconhecida


Quero estar aqui, neste canto de mim, de onde te olho de longe.

A ti que apenas adivinho os contornos, e saboreio os teus pedaços públicos, como tantos outros o fazem... deleitar-se-ão, tal como eu, tentando adivinhar-se nas palavras que de ti se soltam, nos gestos que deixas no ar, como traços de leve perfume?

Quero-te.

Pois, quero-te.

Não sei se lhe chame desejo primário, fantasia talvez, solidão de uma noite sem estrelas, o corpo quente nos lençóis de linho branco, os dedos percorrendo a pele sem encontrar descanso no prazer fictício e fugaz da intimidade a sós...

Dar-me-ia a ti se te tivesse no espaço entre o corpo e uma parede? O arfar do peito em crescendo, a língua em espera, degustando os lábios vermelhos, olhar fixo prendendo-te no amplexo desejado, sem te tocar, as mãos a adivinhar-te os contornos, os músculos por debaixo das vestes com que te cobres do Mundo... atrever-me-ia eu a quebrar as regras, a saltar no vazio, a sugar-te em mim? E tu, querer-me-ias assim, com as histórias que me sulcam o rosto e as curvas com que o tempo me marcou?

Paga-se o preço da dádiva com que moeda estrangeira?

Com que língua me falas tu? Louca que estou, pensando que é a mim que entrelaças em pontos finais, vírgulas e consoantes. Louca de pedra e cal, ancorada a esta história inventada.


Deixo-me estar, neste canto de mim.

Sabe bem entregar-me em pensamento, sem juízos nem juízes.

Só a ti permitiria que me condenasses a uma fogueira conjunta.

A parede fria, o corpo quente. A distância de um beijo, aquele que tudo muda.

02 outubro, 2009

a bagagem da memória


Confesso que não tenho tido vontade de escrever.

Pelo menos, que me é difícil escrever as palavras que me nascem nos dedos, porque as outras, as banais, essas não vos ofereceria, porque não me fazem sentido algum.

Acho que durante muito tempo andei perdida de mim, de quem sou. Oferecia a quem precisava pedaços de mim, dessa minha essência, os pedaços de que necessitavam. Em suma, era aquilo que de mim esperavam... ou talvez com um pouco de sal a mais. Ou a menos, dependendo do gosto, do paladar de quem me queria (fosse para o que fosse).

Estiquei-me, esforcei-me, dei-me mil e uma vezes, fiz da minha vontade bola e encurralei-a no meu peito, calei os sussurros que se transformavam em gritos, fechei os olhos para a imagem que o espelho me devolvia, esqueci-me de mim. Não é culpa de ninguém que não de mim mesma, não me soube amar com o coração inteiro, não me soube embalar no colo. Tinha afecto a montes para dar, mãos cheias de calor, carinho e ternura, ouvidos atentos para os choros de outrém, braços abertos para embalar, para ajudar, coração para nutrir. Mas não para mim.

Chega a um ponto em que o corpo se rebela, e nos mostra que não quer mais viver connosco.

E aí não dá mais para vendar a boca. É preciso procurar a origem, buscar no interior as respostas (que sempre, sempre estiveram lá).

Foi o que fiz; é o que estou a tentar fazer, meio perdida dentro de mim. A conhecer-me, a mulher de força que sempre, secretamente, admirei. A aprender a namorá-la, devagarinho, com cantigas à janela, à moda antiga. Com cartas de amor e mel, com pequenos presentes embrulhados em celofane.

Há tanta bagagem da qual ainda tenho que me libertar!.... e cansa, cansa muito aprender que, afinal, podemos ser nós mesmos, e dá-me um medo imenso de me mostrar.

Mas deste caminho já não arredo pé, por isso.... aturem-me!

01 setembro, 2009

pés de volta

Voltei, de umas férias que só valeram pelos sorrisos nas carinhas dos primos, porque para mim metade da alma esteve presa junto de uma cama de hospital, dando mimos.
Gostava de poder encher esta página agora de letras alegres e pintalgadas de cores garridas que estendessem ainda um bocado deste Verão que já se faz rogado e fugidio... mas tenho o coração tocado pela incerteza ainda, pelo medo que não quero albergar, pela tristeza que combato à força de espadachim a cada subtil momento.
Gostava...
Vais voltar para casa, e vais estar bem, porque o meu amor e o de todos que bem te querem é uma bolha, e te envolve, e isto não há-de ser nada... está bem? Voltarás a resmungar como sempre, e é mesmo assim que te quero, barriga de cerveja e uma festa distraída na bochecha, às vezes um colo rápido no sofá da sala.
Não estejas perdido, pai... eu estou aqui.
Amo-te muito.

12 agosto, 2009

texto ao que já foi


à medida que vou abrindo portas dentro de mim, descubro mundos passados.

cheios de pó, alguns.

outros atravancados de móveis antigos, de uma beleza que em tempos brilhou nos meus salões de baile mas que agora jaze abandonada e fria.

outros ainda despidos de vida, vazios, à espera que eu os resgate da morte lenta...


à medida que vou destapando os baús, sacudindo as mantas, escancarando janelas, afasto o pó, abro-me à luz que me invade...

quero sentir a vida a comer-me as veias, expulsando os fantasmas do passado que insistem em morar-me no corpo.

corpo que desejo limpo, salubre, livre, liberto, de pele doce e mascavada.

alma que quero que caminhe de cabeça erguida e olhos meigos.

castanhos com verde, mel e mar. luz e sombra.


permitam-me que vos diga, seres que me habitam: amo-vos, por quem são, pela nossa história, por ser quem sou e pelo trajecto que vós, e mais ninguém, pela vossa presença, me fizeram traçar, rasto de nuvem no céu da noite.

deixem-me que vos cante, seres que ainda me irão possuir: amo-vos, pelo pedaço de universo que chamaremos nosso, seja de que forma for.

e deixem que vos encante, nódoas negras no peito: vamos fazer as pazes?

10 agosto, 2009

são de veludo as palavras daquele que finge que ama


São de veludo, como a textura quente e confortável na pele.
São de maciez insuspeita, são de aconchego ao coração.


Mas são de papel e um dia, um belo dia, rasgam-se no vento....


Não sou eu que as vou rasgar, não. Mas também não as soprarei, não as enfunarei como velas ao sabor da ventania. Sei apenas que um dia caem os dedos de vidro ao chão e partem-se, e depois pões mais um coração no cordel onde guardas os teus troféus... (não o meu, já não lá consta!).

07 agosto, 2009

feita de espuma


Passeio-me nas palavras dos outros e teço carpetes voadoras.

Feito odalisca em contos de mil-e-uma-noites, deixo que o meu corpo e mente se unam no puro prazer sensual das palavras desfiadas, emoções que me navegam na pele, arrepiando-a, descobrindo os véus com que me cubro da nudez.

O som difuso e confuso que se alonga nos meus ouvidos ecoa até à alma, enamorada das cantigas, suspirando pelas janelas dos olhos. Sim, enamorada das palavras, enamorada do amor.
(E)namorada da vida.

Os meus tapetes de odalisca incendeiam-se-me no pensamento, levam-me longe, para além do horizonte, para além deste invólucro lacrado que é a pele, que me sabe agora a Sol e a mar, a sal e às histórias de quem lhe toca, ao de leve.

E sonho.

Sonho muito, dizem-me que me segure, chamam-me do chão, vejo-os a esbracejar, nos olhos o medo que me perca de vez. De mim mesma.

Mas não temam, que sou feita de espuma, pois não vêem?

05 agosto, 2009

il girasole


La vita è un girasole che torna attorno alla luce.

Di volta in volta, le nuvole nascondono il sole, portando l'ombra, il nero.

Il girasole prende questi momenti per scuotere la loro petali, consapevole del fatto che tutto cambia, tutto il tempo, e la luce ritorna nel suo splendore.

Chiaro, scuro, chiaro, scuro.

Abitano in contrasti.

Volteggiando...

29 julho, 2009

dans le chemin de mon corps

Ando por aí, pelas ruas que são minhas.
Descubro-me becos e vielas em veias que eram dantes auto-estradas de candeeiros brilhantes e tráfego fluido.
Persigo-me por entre a multidão que me habita, rostos conhecidos em janelas coloridas, outros desmaiados de sorrisos em altas torres cinzentas, uns em gritos de pura agonia, outros em gemidos do mais franco prazer.
Vou-me destapando a alma, deixando sair o vapor.
Os pés cheios de bolhas enganam-se na direcção muitas vezes, parecem já mendigos de anos a fio em perícias de esmola, são dois velhinhos que na juventude quiseram ser bravos e conquistar o mundo e agoram pisam com cuidado, procurando não estragar a relva cuidada.
As mãos, essas, aprenderam a germinar calor misturado de amor e oferecem-no agora aos molhos, com alegria e leveza. Querem entrelaçar fundo os dedos nesta energia recém-descoberta, querem curar sem para isso terem estudado técnicas cirúrgicas nos livros dos mestres e doutorados. Não, curam pelo amor, e por vezes encolhem-se de medo, e outras vezes descobrem-se em força.
O coração ainda fala de fininho, muitas vezes para orelhas moucas que escutar bem sabem mas quando agir magoa recusam-se a sussurrar às células a mensagem recebida. Por pouco tempo, vá lá. Que isto de não escutar o coração faz mal ao fígado (e aos pulmões, e ao estômago, e às vísceras, enfim...), e eu não quero mais sinais de trânsito vermelhos nestas minhas vias cheias de tráfego. Cada vez mais lento, mais devagar.
Está na hora, e eu sei, porque afinal sempre soube. Está na hora de me (re)conhecer e encontrar em mim a casa que tantos de nós procuram na rua, em outros rostos e corpos ou bens.
E é por isso que sei que nesta estrada não se vê a linha do horizonte mas existem fontes, e campos, e veredas, e bancos de madeira para descansar os velhinhos pés, e que é assim mesmo que deve ser.

27 julho, 2009

Sufocar as palavras


Estou cheia de palavras e não consigo tirar-lhes a tampa, para que se passeiem livres pela casa, e me encham os recantos, e dêem os recados a quem os precisa ouvir.

Faço orelhas moucas ao meu querer, aos meus sussurros, porque tanto me habituei a este "não querer magoar".

Desconheço-me, eu, que me achava dona de alguma força que me valia de abrigo em alturas de tempestade, não encontro, naufrago no meu próprio medo, agarrada que estou a uma tábua que tem o nome "responsabilidade" tatuado.

Sei que não é esta que sou, mas vejo-me encolhida sob o peso do tempo, e do carinho, e da insegurança, e do dever, e de tantas outras palavras que uso para disfarçar e perfumar e maquilhar o que não sei que é, e canso-me das minhas guerras, das guerras que vivem em mim e que descanso não me dão.

Sei que não é para sempre este vaguear indeciso, sei que chega o ponto da irrversibilidade, mas não o vejo nem quero ver lá no horizonte, queria saber que há caminho a fazer antes de lá chegar, queria talvez que o Mundo fosse cor-de-rosa e tudo encaixasse, uma vez só, vá lá, mostra-me que tens asas e pernas e que não sou o teu umbigo, o teu centro, vá lá. Porque esse peso eu não quero e nunca quis, e assim não sei viver.

Não lhe tiro a tampa, não, mas dentro de mim fervem num borbulhar furioso e tento empurrá-las de novo para o chão, para os pés, porque na boca não, no coração não, não.

Dá-me descanso, Universo, deixa-me estar um bocadinho só, sim?

21 julho, 2009

Amor conjugado


O que é o amor, esse a quem prestamos vassalagem e em nome do qual nos reviramos do avesso, tentando reinventar o que somos?

É amor prevaricar a própria alma, é amor negar-nos a nossa essência, para chegar ao outro, para fazer o outro feliz?

É amor consumir-nos de pequenas frustrações, ceder os nossos limites, gozar apenas quando o outro goza, ter liberdade concessionada e condicionada à presença da outra parte?

É utópico pensar que existe alguém que nos liberta a ponto de nos deixar querer voltar ao seu abraço, pelo simples facto de ali nos sentirmos completamente livres?

Até que ponto a vida em casal é saudável, até que ponto não comprometemos o nosso "Eu" por causa do "Nós"? E não será impossível não o fazer, e não será isso de que se fala quando se liberta a palavra amor?

Amar é dar. Mas também é receber.

Mas qual a proporção correcta?

Porque amar não se faz só da conjugação do verbo amor, faz-se de mil e um ingredientes nas doses certas, e é por isso que é tão raro, e é por isso que tantas vezes confundimos o amor, aquele mesmo a sério, com outros sentimentos semelhantes, que secalhar nem têm nome.

Confundimos desejo sexual, atracção intelectual, espiritual, atracção física, carência, necessidade de atenção, orgulho, deslumbramento, idolatria e mais uma data de emoções com esse cavaleiro andante que no fundo passa tão de raspão na nossa vida que por vezes nem damos por ele - o amor.

Não sei se sou a melhor pessoa para falar de amor. Às vezes acho que gosto demasiado de liberdade, do meu espaço, para caber numa vivência a dois. Mas depois penso que também é de liberdade que se faz este sentimento, e que quanto mais me libertam para que eu voe mais eu volto para a segurança do ninho. É na prisão que me perco, que grito a negritude da alma. Não sei estar quando em controlo, só sei estar quando é ali que quero. Posso estar errada, mas é assim que sou.

Não sei.

Mas acho que a felicidade é algo que está dentro de nós, e que não podemos buscar no outro as respostas, como uma injecção de necessidade. Até porque o outro não faz ideia do que necessitamos (e tantas vezes não há diálogo, e se o há faz-se de acusações, mágoas e feridas que tingem tudo de mal-entendidos! como era mais fácil fazer um raio-X à alma, para que nada se perdesse em palavras com sentidos trocados...). E porque não lhe cabe "suprir-nos" nada.

Uma relação não é um casulo, são duas pessoas que já existiam antes de se tentar o "nós". Mas quando um tenta abraçar, apertar demais, invade o espaço do outro, e aí perdeu-se algures o "eu"... Sem "eu" e "tu", como se constrói um "nós"?

Sim, talvez seja utópico pensar que é possível existir uma relação sem mudanças, sem anulações mútuas, por mais minúsculas que sejam. Mas evitar-nos a ponto de não sabermos quem somos... não me convencem disso!

Não sei se sei amar a vida toda, porque acho que a vida se faz todos os dias, e porque promessas não as faço, que já me ensinaram como são vãs.

Sei que amo todos os dias, e que é assim que se vai vivendo.

do cansaço

Quando o cansaço se acumula como um peso de mil anos no corpo, a vida fica mais longe. Fica mais curta, fica mais amarga.
E eu fico impaciente, dura, uma parede de vidro que não deixa passar a luz, o riso, a alegria.
Até as palavras me fogem, assustadas com a dimensão deste ogre em que me transformo. Não as culpo, não lhes tenho carinho agora.
Até pensar me dói.
Até quando vou aguentar, não sei.
Preciso parar.

10 julho, 2009

sou sem voz, sou amordaçada


Foste um dia o mundo,
contado no meu olhar,
foste um dia o corpo que tremia no teu abraço,
foste um dia o laço,
foste um dia o beijo desmedido no vão de escada,
foste um dia o nada,
foste um dia
o sabor do Sol na minha almofada...

... mas as cigarras perderam a voz
as mentiras encheram a caixa de música,
fizeram-me buracos em casa,
e as tuas asas queimaram-se
no perder do tempo que se escoava sem falar....

... hoje mudas de voz para encandear
quem volteia na tua luz (de cera, fingida)...
E eu calo as palavras de aviso
para que não me apontes mais dedos de gelo,
de engano,
para que não me acuses mais das tuas culpas!

... just

08 julho, 2009

language of the Universe


"Sometimes the Universe speaks to you in a strange language, that you do not understand.

Sometimes you are driving in a path, confident, clear minded, your heart filled with joy... and then something happens that throws you off balance, that shakes your entire structure.

You loose your balance, your feet, your heart pumps pure adrenaline into your veins. Your eyes get filled with tears and your thoughts get shatered... You think you don't deserve it, you think you can not get throught it.


But you can, you see?

Just stop, and breathe for a bit, then think about this new challenge and the reason for it. There must be one. Maybe a sign, maybe a warning.

When you're calm, meditate. A solution will be born in your heart. He will know which path to choose from here. The footsteps that you will have to take.


Remember, this is your way. This is your life, precisely as it should be.

Love yourself. Love your inner strenght.

You will be allright."


This is what I keep telling myself.

07 julho, 2009

luz

"I have a dream, a fantasy
To help me through reality
And my destination
makes it worth the while
Pushing through the darkness
still another mile
I believe in angels
Something good in everything I see
I believe in angels
When I know the time is right for me
I'll cross the stream
I have a dream"


Todos os dias me maravilho um pouco mais com este lugar.

Vejo com os olhos de quem caminha por estes trilhos há séculos, com as pernas recém estreadas mas na alma impressa a memória do que já vi e vivi. Memória das minhas células mas que desconheço, e se me revela aos poucos, como fugazes eclipses de saber.

É meu desejo ser veículo de luz e amor nesta minha breve passagem, plantar calor, oferecer colo.

Agradeço aos meus pais por me permitirem o nascimento, por me nutrirem com carinho, compreensão e ternura, por me guiarem em direcção a quem hoje sou.

Procuro-me, ainda, sei que há em mim pedaços inexplorados e virgens, sei que há centelhas divinas que preciso tocar com as pontas dos dedos... mas já não corro contra o tempo. Não, agora caminho, apenas. Caminho e escuto, e aprendo a amar. Aprendo a dar, também a mim.


Aprendo a ser aquilo que nasci para ser (como, aliás, todos vós que não o sabeis!) - um traço de Luz.

To sleep


Estou terrivelmente cansada.

O corpo queixa-se das noites sem dormir, queixa-se de o forçar a continuar apesar da falta evidente de energia e de descanso.

(desenganem-se os que estão a pensar que embarquei nalguma actividade nocturna de alto desgaste... seja ele físico ou mental)

Já tentei de tudo para atrair o sono que se me escapa dos dedos que o perseguem. You name it, I've done it.

É que eu até me deito com o dito cujo (leia-se, sono) bem enroscadinho a mim... só que o safadinho adquiriu a nefasta mania de, cada vez que me vê assim mesmo prontinha para embarcar num zzzzzzzzzzz mais profundo, largar-me assim, sem mais nem ela, desamparadita... e completamente desperta!

Digo-vos, é desesperante. Tão desesperante que nem escrever de jeito já consigo, e ando para aqui a deitar estas parvoíces para o papel (perdão, écrãn).


Volta, Joãozinho (Pestanudo), estás (a)perdoado! Dá-me uma noitezinha de tréguas, prometo ser uma boa menina, sim? Sim? Pleeeeeeeease....

01 julho, 2009

Cigana


Sou cigana.

Nos meus pés sandálias de corda, nos braços pulseiras e chocalhos que tilintam à minha passagem.

Caminho orgulhosa das minhas raízes, do fogo que me mora no corpo.

Sou cigana errante, moro em todo o lado e em lado nenhum, a ninguém me prendo ou me vendo, nem alugo os meus sentidos e o meu sentir.

As roupas coloridas cobrem-me a pele morena com os tons da vida, numa explosão de cor. No peito, o corpete justo, afeiçoado aos seios que ainda pendem com graça.

A minha boca vermelha, adocicada, contrasta com o negro cheio dos meus olhos, onde quem comigo se cruza percebe a força da minha raça, do meu querer.

Tenho cicatrizes da vida espalhadas no ventre e no corpo, são as minhas tatuagens, que deixo os meus amantes fortuitos acariciar, questionando-se. Não lhes respondo, porque abri-las seria ofertar o coração, e esse não posso mais doar, amarrotou-se quando me morreu o meu filho nos braços, e com ele o enterrei na terra.

Li a minha sorte nas linhas da minha mão, arte que me ensinou a minha avó materna e que uso para comer, vendendo sinas aos que ma pedem, e sei que este meu corpo ainda tem muitas luas para carpir, mas que a alma mo desabitou já, fugindo para outras paragens.

Talvez a recupere, aos pedaços, quando o corpo se entrega na dança flamenga que me corre nas veias, e encontra uma alegria modesta e fugaz; talvez um dia a encontre na beira da estrada por onde caminho, quando o teu beijo ma fizer encarnar de novo no peito.

Sei que estás por aí, tu que me fugiste quando a dor nos atingiu sem aviso, como um ladrão no escuro da noite.

E dizem-me os traçados na palma que os meus passos, dados com certeza, com passado, com suavidade, mas nunca a medo, me levam, linha a linha, até ti....

22 junho, 2009

wood


Os meus passos vagueiam na estrada de pó, correm ruas e vielas, atravessam distraídos as travessas da minha infância enquanto olho os meus pés de unhas vermelhas, enfiados nas sandálias de corda.

Quando não há mais por onde fugir, quando o caminho se queda aqui, junto à casa de madeira pintada, levanto o olhar da poeira e abraço-te assim, casa mia de mio cuore, embrulho-te nas memórias que já se agitam irrequietas no meu pensar.

Subo devagar, sem barulho, as escadas do alpendre, como se os ouvidos das gentes de outrora pudessem ser pertubardos do seu sono por este meu visitar inoportuno e inesperado. As mãos tacteiam-me o corrimão, sentindo-lhe a textura áspera, o calor que se desprende naquela tarde de Maio.

A porta não está fechada, com meia volta do puxador abre-se como se desvendasse algum segredo secreto, como se não fosse eu parte deste lugar, desta história.

Entro, bate-me o coração inexplicavelmente irrequieto nas costelas, pressentindo o dejà vú que se adivinha no entrelaçar dos minutos que decorrem no relógio.

Entro, enfim.

Descalço os pés que soltam as asas no soalho de madeira, e começam a querer dançar, sentem na pele os passos corridos das crianças que por ali faziam jogos de esconde-esconde, os meus pés dançarinos que caminham pelo chão quente.

Invade-me o odor adocicado da madeira que tudo reveste, aroma da minha infância a adolescência, penetra-me o corpo pela pele seca que arde com a tua falta. Porque ali é tudo tu, ali é tudo fomos, ali é tudo eu.

Olho os sofás velhos desarrumados do sítio, percorro devagar o antigo escritório do meu pai e no esvoaçar do cortinado (como é possível que ainda exista, intocado pelas traças?) parece que lhe sinto a presença apaziguadora e amável, como espírito travesso que me dá as boas-vindas.

Na cozinha, o velho fogão a gás lembra-me o rosto doce da minha bela mãe, mulher serena de peito farto e sempre pronta para nos desculpar, entre beijos de açúcar e uma palmada fingida, as travessuras em que éramos peritos.

O meu quarto saúda-me e chama-me, do primeiro andar. Não consigo evitar as lágrimas que me sulcam o rosto e o enchem de histórias quando entro neste que foi o lugar que escondeu os nossos primeiros beijos. Lembro a escada que encostavas à janela, noite cerrada, para me subires ao coração, aquele que roubaste para não mais devolver, e eu que me esqueci de to pedir de volta, porque a mim já não me faz falta desde que de mim partiste.

Lanço o corpo na cama de lençóis de linho antigo e soluça-me a alma, aos tropeções, recorda este meu velho (sim, velho, não mais o uso sem ti, envelheceu-me em vida...) corpo os abraços ardentes com que me envolvias, a tua pele que cheirava às flores do jardim da minha mãe onde te escondias, a tua boca madura e louca procurando-me, sugando-me, a nossa pele colada em água, as tuas mãos que me descobriam a cada nova forma de fazer amor disfarçado (sem barulho, sussurrado, para que ninguém no Mundo nos soubesse assim...)...

Sai-me pela boca o grito que tanto tempo calei e que tem o teu nome, meu amor, meu grande amor, porque te foste desta terra em direcção ao céu e me deixaste oca de ti?

E adormeço enfim, vencida, caída, enrolada nesta bola de saudades, embalada neste sonho em que o teu sorriso de estrela de cinema ainda era meu e a tua voz de Frank Sinatra me cantava ao ouvido baladas pirosas de amor adolescente...

19 junho, 2009

jogo de bola


O menino brincava no pátio com a bola amarela, redonda como o Sol.
Treinava concentrado o remate contra uma parede povoada de impropérios de estilo literário pobre, gritos de revolta em cores vibrantes e sinalécticas iletradas, alheio ao barulho que lhe chegava das janelas abertas com cortinas deslavadas e sujas, adivinhando vidas difíceis e rostos carregados de dureza por detrás.

Treinava o pontapé certeiro com os ténis rotos de tanto uso que a mãe lhe havia comprado num Natal distante, num Natal do qual já não recordava a luz, nem o sabor e muito menos a data, nem em tal pensava enquanto, pacientemente e com força, rematava. Num vai e vém, num vai e vém.

Um assobio saído do nada desperta-o do chuto ritmado da bola.

Uma menina de calção curto, olhar desafiante e cabelo da cor das cenouras que a mãe o obrigava a comer, dizendo que lhe adoçaria o olhar (mas ele sabia que era porque não havia mais nada), estava parada junto ao portão do páteo, como que pedindo (exigindo! a julgar pela postura corajosa...) atenção.

Teria sido ela quem assobiara?


"As meninas não assobiam, é feio."
"Oh, eu não ligo a isso. Deixas-me jogar contigo? Olha que eu sou boa, tenho jeito..."
"... hum... Ok, pode ser!"

Um sorriso rasgado iluminou a face de Clara, cujo coração batia apressado do medo da rejeição.
Tomás sorriu por dentro. Tinha adorado aquele sorriso dela, tinha gostado da atitude desprendida e em jeito de desafio. Seriam amigos.

Correndo com a bola nos pés, começaram assim a sua partilha cúmplice.

15 junho, 2009

banho de luz


Fechei os olhos e deixei-me ir, na sensação que me invade. E que sorvo como se nada mais existisse, como se a vida se fechasse, sorvo porque preciso respirar.

Porque preciso de mim, do meu corpo, este que a minha alma escolheu (e se o fez foi porque a guiou a sabedoria secular de corpos passados), preciso passar os lábios nas minhas cicatrizes e abrir uma vez mais a janela ao Sol que me quer banhar. A luz, a luz. A luz que cega a alma, habituada à meia penumbra. Abro os olhos devagar, acostumo-me depressa.


Escorre-me a água pelo peito sedento, traça caminhos na pele morena, encontra em mim novas cores e transforma-se no sabor do meu corpo, acompanho-lhe o descer com a ponta dos dedos e reivento-me nesta espécie de amor líquido...


Compreendo que é a mim que devo o amor maior.

Compreendo-o enquanto a água me liberta do peso do dia (sempre foi assim para mim o banho, um ritual de pureza, um penso rápido de alegria), me faz gota viajando pelos poros abertos, em sede.


Quero escutar esta voz que me fala em sussurro, quero embriagar-me da liberdade... liberdade de ser quem sou, de celebrar quem sou, a vida que me foi dada como um presente raro (pois esta vida, este caminho, são só meus!).


Por isso grito a plenos pulmões com a voz calada e os olhos em fogo, abraço-me e embalo-me com cuidado de mãe e deixo-me ir, nesta sensação de paz e força que me consome gentilmente...


Sou génese, sou vida, sou presente de Deus!

13 junho, 2009

com palavras me feres, mas não me matas

Podes encher-me com essas palavras de pontas afiadas, atiradas ao descaso, como quem nem se dá ao trabalho de pensar.

Podes engrandecer essa tua alma enraivecida com o saber inato de que me ferem esses teus arabescos vermelho-sangue desvairados no papel.

Podes gritar pelo Mundo fora (sim, tonto que é em acreditar-te, se ao menos te vissem sem os véus de fumo em que te envolves, para que te desejem de longe, intocável que és, simulação do perfeito, do grande, do belo!) que traidora insatisfeita sou, podes gritar até enrouquecer a voz ou não haver ninguém mais que te escute.

Podes pintar-me com essas cores enganadas, contornos difusos, mentirosos, fingidos.

Podes tentar mil vezes provocar-me a ira, a mágoa, a raiva, para que as palavras me saltem da boca e se dirijam a ti, para que me vejas mover na tua direcção, para que me sintas viva.

Podes fazer tudo isto e muito mais.

Mas eu estarei no silêncio, à espera da maré calma. Eu estarei no cantar do vento, no trigo que se dobra e não quebra.

E saberei que tudo isto é apenas o teu vazio que me chama. E não irei.

09 junho, 2009

not yet


Começa-se a acreditar, devagarinho.

Como uma ave a ensaiar um primeiro e tímido vôo, à beira do ninho, tremendo de medo da imensidão do mundo em seu redor.

Mesmo que o coração, já antes enganado do mesmo engano, tenha erguido alto as estacas que o protegem, mesmo assim, o desejo encontra maneira de entrar livre, desfeito em vento, por entre as grades. Insinuante, começa a inebriar.

E começa-se a acreditar.

E a ideia começa a ganhar forma, e cor, e carinho no nosso peito, e já se dá por nós a embalar a esperança de noite na almofada, meio que às escondidas da nossa razão.


Mas depois chegam os dedos frios da desilusão, apertando a garganta.

E da alma faz-se bola, porque não se pode mostrar.

Não foi nada, não foi nada.

Tudo passa, tudo voa.


Tudo voa.

08 junho, 2009

mixed reasons


Quando o coração e a cabeça entram em danças de argumentos desenhados no ar, what to do?

06 junho, 2009

burnt

Não sei em que momento aconteceu, não registei o instante no tempo.

Talvez devesse tê-lo feito, como um gira-discos que fica riscado e não volta a passar a música para a frente.


Mas ainda tenho medo de que a fogueira de novo se acenda, de que exista um resto das cordas grossas que me amarravam dentro de mim. Um farrapo apenas, uma palavra mal apagada com a borracha, um rescaldo de guerra que possa colocar-me de novo nesse banco dos réus de onde há tão breves momentos saí.

Não sei em que momento aconteceu, quando cortei as fotos de memórias dentro de mim, quando te rasguei, quando te queimei. Ainda há cinza quente, ainda há restos a arder. Por isso, preciso ter cuidado. Humpty-dumpty, sitting on a wall. I don't wanna fall.

O caos da liberdade trouxe um gosto amargo e o necessário rearranjo da história, que agora se escreve sem as letras do teu nome. Mas mais leve, com menos peso, menos dor. E eu que pensava que eras tu quem eu sonhava! Tonta que fui...


Acabaram-se as esperas.

Rasguei o véu da ilusão que me cobria.

Matei-te em mim, mas tenho medo. Das outras vezes voltaste e deixei-te entrar, fantasma com voz de mar.

Agora não, agora não.


Passam os dias, caminham sobre mim as noites. E recomeço a viver, uma outra vida.

Uma dúvida persiste em insinuar-se-me... terá sido de morte matada ou foi apenas de morte fingida?


Have faith, my child, for you are strong - that's what I keep telling myself. Hope it works. Hope it does.

05 junho, 2009

de amor e de sonho


"É sinal de amor puro não se perceber, amar e não se ter, querer e não guardar a esperança, doer sem ficar magoado, viver sozinho, triste, mas mais acompanhado de quem vive feliz."
Miguel Esteves Cardoso, in Expresso.


Não entendo. Chamem-me burra.

Mas não consigo conceber o amor sem se entregar, sem ter esperança, sem tentar, sem experimentar, aquele amor que é só suspiros e versos e que se fica por aí, com medo dos passos que o encaminham para o mundo real (talvez porque se desfizesse no primeiro embate...).

Amar é lutar.
Não é, de forma alguma, viver sozinho e triste, acompanhado de uma colecção de amores impossíveis. Desculpem, mas deve ser demasiado pesado (para a alma, o corpo e o coração, embriagado de dor, de solidão).

Princesas em cima de torres suspirando por amados que, embora versejando para elas, têm medo de subir as escadas, e que não conseguem descer porque temem partir os sapatinhos de cristal não fazem, definitivamente, o meu estilo.

"A vida é uma coisa, o amor é outra. A vida dura a vida inteira, o amor não. Só um mundo de amor pode durar a vida inteira. E valê-la também."
Miguel Esteves Cardoso, in Expresso


Eu acredito num mundo de amor.

Acredito no desejo do toque, acredito na entrega do olhar que não fala, mudo de espanto que está, acredito no beijo certo, no namoro do corpo e da alma, acredito nas cartas de amor (ridículas ou não), acredito nas promessas, nos desencantos, nos encantos.

Acredito na vida vivida em amor. Com amor.

Mas no amor real.
Não no que mora apenas nos sonhos, aprisionado numa jaula sem janela feitas dos nossos medos.

04 junho, 2009

grito de Ipiranga! (do fingir e outras mentiras que tais)


Este é um grito de Ipiranga! E, como todos os gritos que se prezem, assusta, pelo seu volume.

Irrita-me a hipocrisia de quem escreve, de quem fala, de quem enche o peito para falar de amor, quando o seu amor, quando se abrem as mãos, não é mais que o vento que as enche.

Irrita-me o professar de um credo sem esperança, a tenda erguida como bandeira hasteada em orgulho, no mundo do sonho profundo, do inexistente, do invisível, do vazio, do medo, quando nem sequer se ousa ter a coragem de se desejar, de se lutar.

Irrita-me que se fale de amor como se a palavra, por si mesma, não encerrasse em si a maior das sensações (a-mor, a maior) e por isso mesmo não merecesse ser desperdiçada assim no vento, na espuma, no ar, sem se agarrar, sem se viver, sem se tentar ter.

Não entendo, confesso, estes amores que mais não são que romances de cordel que nunca acontecem... simplesmente porque os protagonistas não têm coragem para os viver! Amam-se tanto, para quê? Para, podendo estar juntos, escolher a vida separados? Mas que desperdício de sentimento, quando há gente que morre à míngua, sem os ter...

E o que mais me irrita, confesso, de alma aberta, são os tolos que acreditam nas palavras fingidas, mentirosas, mascaradas, nas palavras que parecem belas, puras e ingénuas, doridas, sofridas, mas mais não são que cobardias escritas num papel de écrãn!


Até Romeu e Julieta ousaram.... quem sois vós para rotular de impossível o que está ao alcance da mão?

03 junho, 2009

o pesadelo

- Solta-me. Solta-me, peço-te (olhos unidos em prece, a boca crispada, os braços unidos pelas mãos dele, cabelos revoltos na raiva e no desespero).

- Não, sabes que não queres partir. Sabes que me dizes isso apenas para que te impeça, para que te prenda a mim, em mim, um instante mais (a frieza na voz, a calma distância, a madrugada a nascer por detrás das costas nuas, a cama em desalinho).

- Quero, tenho força! Vai-me doer, vai-me custar, mas vou-me libertar de ti, de ti que és apenas ilusão, que és apenas mentira, que és apenas o descanso de um fugaz minuto que pago com o desespero da alma (a coragem em ondas mareadas em crescendo, o corpo soluçado, lentamente, a erguer-se do seu estupor, a libertar-se das suas amarras, a crescer).

- Vais viver sem mim? Que mais tens? (certeza cortante e fria nas palavras, quase se lhes sente a textura áspera, o metal gelado no timbre).

- Tenho-me a mim.


Lentamente, afasta as lágrimas dos olhos negros, fixa o tecto, sente os músculos relaxar, o pesadelo como uma memória que ganha distância.

Vai viver.

02 junho, 2009

o primeiro dia

Hoje não vou falar de ti. Não, não vou.
Hoje não vais ocupar este bocadinho de mim, hoje vou-te pôr no canto. De castigo.
Hoje vou abrir a porta e sair sem olhar para trás. E vou olhar-me no espelho e não vou ver a tua alma reflectida.
Não, hoje vou deixar a luz fluir, vou deixá-la atravessar-me o corpo e beijar-me as células.
Hoje não terei o teu nome no peito nem o teu beijo na boca inventada.
Hoje serei só eu, sem o teu peso. Sem as tuas correntes, sem os teus medos, sem a tua incómoda e fingida dor. Porque é fingida a dor que mostramos aos outros como triste mas, cá dentro, embalamos nos braços com ternura.
Hoje, é o dia 1.
O primeiro de todos em que me libertarei, aos poucos, de ti.
Que o Universo me escute e fotaleça!
Uma amiga perguntou-me "como está o teu coração?". Ontem, cheio de raiva e dor. Hoje, com vontade de sarar.

01 junho, 2009

to pretend or not pretend

In fact, I'd prefer not to have met this "you" that pretends to be someone else.
So... I guess we are both "pretenders"...


contador de histórias fingidas


As palavras são o que são, valem o que valem.

Desde crianças que somos ensinados sobre o seu signficado e importância nas nossas vidas.

Dissecam-nas, ensinam-nas, para que saibamos que a colher serve para sopa e o garfo para espetar os alimentos.

São ícones, são símbolos, são a diferença, por vezes, entre oferecermos um sorriso ou uma lágrima.

Seja como for, as palavras têm sentidos.


Por isso não entendo, e deixa-me atordoada, esta tua filosofia de que cada um percebe aquilo que quer do que se diz; de que os sentidos estão em quem recebe as palavras, e não em quem transmite a mensagem. Que o beijo na boca e o desejo na ponta dos dedos que, sôfregos, me procuram, são gestos de amizade.

Magoaste-me de novo. Eu no meu canto, longe de ti, quieta, em silêncio. Mas tinhas que ir encher de remoinhos o dia, de ventos frios a noite, e a mim de uivos e ecos.


És um fingidor de palavras, sentidos, mensagens, um fabricante de mentiras.

Dói-me que vistas essa capa de entrega a uma causa maior, de coração pleno de amor e verdade, quando te conheço como indeciso, impreciso, um colo que busca o meu calor. Que não mais te darei.

Dói-me que te vejam como não és, dói-me essa tua forma de buscares carinho desconhecido, de seduzires donzelas carentes, numa pele que não é a tua.


Mas vai, mas continua.
Porque ao contrário do que pensas, eu sei ser sem ti. Sei existir sem ti.

E quero, cada vez mais, que estas palavras se encham de verdade... "já não te quero mais"!

30 maio, 2009

...let me go, little man


Saudade, de vez em quando. É este o nome que dás à minha ausência.

E eu queria ser um barco de velas ao vento para que, com o sal do mar a bater-me no casco de madeira (velho, gasto mas ainda vibrante), me transportasse para longe de ti.

Não me digas que me queres bem. O teu querer não me serve, sempre foi vestido de chita curto, apertado, tamanho de criança em corpo de mulher. Serve-te a ti, com essa alma que julgas crescida e sofrida, mas que não é mais que um embrião do homem que te adivinho.

Não entendes tu porque me afasto? Agarra-te a mim o teu egoísmo? Deixa-me ir, vá.... Quero outra margem onde prender esta âncora que me pesa no peito...

28 maio, 2009

a thousand feelings in a word

Hug.
No more words needed.

das janelas escorria o Sol

As janelas do meu sentir vão-se fechando.
As que têm cores, azul e vermelho e verde e laranja e amarelo-limão.
As que tinham o teu nome nas portadas, as que escreveste em areia da praia e bordaste com o sal do mar.
Vão perdendo o gosto e o sabor, vão-se desbotando com a chuva que agora escorre solta das tuas mãos.
Eu não sei mais onde ir buscar-te, eu não posso mais ir-te buscar ao fundo desse arco-íris onde deixei as chinelas e pousei as mãos no chão, para sentir. Para te sentir.

Então deixo-te solto, com as asas nesse imenso céu azul que não sabe guardar-te a alma (pois não te conhece, não te aninha), e daqui debaixo fico a espreitar os teus vôos de aprendiz de pássaro, com a cabeça rasando o chão...

Das janelas escorria o Sol... agora entra o vento frio da madrugada...

27 maio, 2009

.

just



c'est vous, celui là

Tu... és apenas uma linha escrita e deixada a meio.
És um beijo trocado à pressa, como se fosse pecado.

És a recordação de uma noite no meu corpo mal amassado, que perdeu o rasto do teu perfume na pele.

És o vento que de quando em quando me sopra nos cabelos, a mão que me procura a perna, para logo em seguida me negar a marca. A tatuagem que te deixei.
És o sorriso e o riso alto que me enche de colcheias o peito, és as gotas de água que me sulcam as noites mal dormidas, de sonhos e desejos polvilhadas.
Tu és as palavras que me morrem na garganta, traços inteiros engolidos à pressa, na impaciência de tentar fingir que não me és nada. És, afinal, o meu fingir, a minha mentira maior. A minha camuflagem de mim mesma.

26 maio, 2009

.....


será que....

... a perfeição está na inexistência real?

sem palavras

Calo-me.
E é tão difícil.
Imagino-te. Invento-te. Penso-te. Leio-te, às escuras. Adivinho-te o sentir. O desejo insatisfeito, a alma que ainda busca.

Essa tristeza que me mata, essa mágoa do destino (que não te escolheu a ti, mas que abraçaste como teu).

Não entendo esse sofrer, mas calo. Não aceito essa dor, mas calo. Não suporto essa cicatriz que com tanto orgulho carregas, mas calo.

Calo.. mas já não espero. E quando vieres... terei partido!


25 maio, 2009

é aqui, neste lugar, dentro de mim

É aqui que me dói. Onde enterraste fundo o teu olhar, que dentro de mim se perdeu na corrente, fundiu com o passado de histórias de encantar que me contavam quando menina, "e viveram felizes para sempre"...

É aqui, onde não me queres conhecer, onde te perdes por segundos para logo te recompor, negando-te.

Deve ser aqui que se esconde a alma, essa que tem o meu nome, a que conhece os trilhos que passei e cala os segredos dos que ainda irei caminhar. Eu já não sei, já não procuro, já não me procuro, porque não me quero encontrar assim, com o teu nome lá tatuado. Devia haver uma forma de te apagar o cheiro, o corpo, o olhar, o gosto, de te apagar desse lugar, queimando a planície, sem deixar rasto de incendiário.

Mas calo daqui os gritos que se querem desprender, engano a música de fundo fugindo às colcheias e claves e sons que me preenchem na tua presença (ainda que apenas na minha mente, no meu querer), visto as roupas de cigana errante com que me uma vez mais me baptizaste, encho de pulseiras de chocalho os tornozelos e caminho, altiva, neste novo percurso, esfumado e distante que está o sonho, dorido que está o querer...

22 maio, 2009

os sinos que repicam

Foi por acaso.
Um acaso que agora me mata o coração.

E ainda por cima roubaste-me... (o mar está guardado, pertence àquela que nascerá de mim).

Foi por acaso, sim.
Mas matou-me a alegria, o sorriso.
E não quero mais morrer desta morte lenta e estúpida, cheia de lágrimas e com este sabor a desgosto na boca seca.

Damn you! que me andaste a namorar descaradamente a alma, para agora a largares assim, nua e perdida no vento...

Vou fechar os meus olhos para ti, calar na boca as palavras de mel que te guardei, matar no ventre as sementes que sonhei plantadas...

Vou matar-te em mim, de morte anunciada, com os sinos da Igreja a lamentarem tão jovem perecimento...

19 maio, 2009

Recadinho

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partida... macaca... fugida!

Assim que começo a preparar a minha partida de ti, o meu "detachment", a minha corrida de fundo interior que me levará (espero eu) para um futuro em que a tua falta de união das palavras aos actos não me magoe, assim que começo esse processo de rearranjo que te negue o espaço imenso que me ocupas agora.. parece que há um qualquer sistema de alarme em ti que te avisa.

E é tão eficaz, tão eficiente esse teu sistema de alarme que, de cada vez que tento escapar-te, calçando os ténis e preparando-me para uma maratona de emoções, vens a mim. Ligas-te a mim. Procuras-me. Falas-me. Tentas-me. Sem saberes que, uma vez mais, me frustras a corrida. Me eliminas da pista. Me trais de mim mesma.

Ontem não foi excepção. Uma vez mais decidi que não sou mulher de viver agarrada ao nada, a uma ilusão de um futuro. Sim, sei que me amas. Sim, já mo disseste. Mas também sei que não é a mim que persegues com palavras e sonhos (ou se é não mo dizes).

Mas não é justo, não é justo que me digas que me queres, não é justo que me envolvas com essa voz doce de promessas (que sei serem de uma noite só), não é justo que essa teia me sugue uma vez mais.

Desta vez, consegui resistir. Mas até quando?

Volto a calçar os ténis.

Deixa-me ir, por favor....

18 maio, 2009

on the beach

Fecho os olhos.
Espreguiço-me, indolentemente, na toalha.
O Sol lambe-me o corpo, doura-me a pele.. Impregna de calor e energia as minhas cálulas, gritando-lhes um sonoro "bom dia!".
Suavemente, deixo-me ir. Como sempre, vagueio por aí. Até chegar a ti. Não consigo domar este meu pensamento que é como espírito rebelde e livre na minha cabeça, jaula que lhe tolhe as asas! Deixo-o voar.
Perde-se no vento que agora me arrepia a pele e brinca nos caracóis revoltos do cabelo, como dedos de amante insatisfeito.
Procura-te, distraído.
E vem contar-me aos ouvidos histórias de amor inventadas, o teu corpo aqui junto do meu, nesta areia imensa, os nossos braços presos num rouçagar doce da alma, beijos molhados e salgados que percorrem as nossas curvas (diluídas que estão neste nó em que nos prendemos, onde sou eu? onde és tu?), o sabor da tua língua misturado com o meu desejo...
Digo-lhe que pare.
Rogo-lhe mil vezes que me abandone, que te deixe só. Explico-lhe em voz mansa e rouca que te não pertenço, a ela que me encanta com voz moura de ilusão, digo que no teu cortação não me guardas como um segredo amordaçado.
Não se apieda de mim, este meu pensar que não me pertence.
Uma e outra vez, procura-te, encontra-te.
E uma e outra vez mergulha-me no sonho.
Na toalha, deitada, deixo-me invadir, sem resistência.
Estás em mim.
Sê bem-vindo.

15 maio, 2009

missing you



Do you need any more words than these?

13 maio, 2009

casa mia, amore mio....

Casa.

Família. Calor. Risos. O cheiro da comida. Os Domingos de pijama, festas de cócegas e beijos entrelaçados entre os lençóis. O Mundo lá fora, num rumor lento, que pode esperar.

Um dia disse-te que eras isto para mim. Tudo isto. Disse-te que te sonhava em chinelos e de barba a arranhar-me a boca, na urgência do beijo.

Hoje, que te perdi sem nunca te ter realmente tido, que me morreste sem nunca comigo teres vivido, que me foges simplesmente para não ceder à minha pertença (porque o desejo de ceder te consome, sem o saberes, sem o quereres...), olho-te na distância de uma mesa de café e continuo, sem querer, sem poder evitar, a ver nos teus olhos o que, logo de início, de chofre, sem me preparar, me mostraste.

Casa. Aconchego. Família. Lar.

sim!... pede-me o impossível!...

Diz-me...

Porque continuas tu preso dessa janela que a tua alma abriu?

Preso de um mero sonhar, de um desejo que tão bem sabes como impossível, de um amor que chamas de perfeito (apenas e tão somente porque é feito de algodão, de ilusão, de distância, de ausência, de palavras censuradas e trocadas assim, às pressas)...

Tens-me aqui, no teu viver. Procuras-me com a ansiedade de homem que busca o seio de mulher.... para em seguida me negares o sabor dos beijos com que me tocaste a boca!

Negares que somos um, que nos pertencemos, que nos adivinhamos no toque, na partilha, que não sabemos estar sem a presença, sem o calor...

Nega-me, uma vez mais! Mata-me com essas palavras que para outra escreves, enquanto as tuas mãos me percorrem o corpo e os teus olhos me juram amor....

a luz que se faz sombra

Era dia de vento nas copas das árvores, no corpo que treme.
Era dia de sombra, medida nas nuvens que povoavam a Serra.
Era noite de frio, era noite mágica de descoberta.
Alheio a tudo, celebraste. Gritaste ao Mundo o teu saber, agradeceste a tua dádiva. Que o Universo te trouxe.
Honraste-me tua Rainha, por séculos companheira, reconhecida enfim.
Amaste-me na perfeição que só tu sabias dar-me.
Mas hoje fizeste-me voltar ao pó, à sombra de onde me resgataste, apenas para me fazer de novo o nada, para me sentir de novo a fuga da luz...