12 agosto, 2009

texto ao que já foi


à medida que vou abrindo portas dentro de mim, descubro mundos passados.

cheios de pó, alguns.

outros atravancados de móveis antigos, de uma beleza que em tempos brilhou nos meus salões de baile mas que agora jaze abandonada e fria.

outros ainda despidos de vida, vazios, à espera que eu os resgate da morte lenta...


à medida que vou destapando os baús, sacudindo as mantas, escancarando janelas, afasto o pó, abro-me à luz que me invade...

quero sentir a vida a comer-me as veias, expulsando os fantasmas do passado que insistem em morar-me no corpo.

corpo que desejo limpo, salubre, livre, liberto, de pele doce e mascavada.

alma que quero que caminhe de cabeça erguida e olhos meigos.

castanhos com verde, mel e mar. luz e sombra.


permitam-me que vos diga, seres que me habitam: amo-vos, por quem são, pela nossa história, por ser quem sou e pelo trajecto que vós, e mais ninguém, pela vossa presença, me fizeram traçar, rasto de nuvem no céu da noite.

deixem-me que vos cante, seres que ainda me irão possuir: amo-vos, pelo pedaço de universo que chamaremos nosso, seja de que forma for.

e deixem que vos encante, nódoas negras no peito: vamos fazer as pazes?

10 agosto, 2009

são de veludo as palavras daquele que finge que ama


São de veludo, como a textura quente e confortável na pele.
São de maciez insuspeita, são de aconchego ao coração.


Mas são de papel e um dia, um belo dia, rasgam-se no vento....


Não sou eu que as vou rasgar, não. Mas também não as soprarei, não as enfunarei como velas ao sabor da ventania. Sei apenas que um dia caem os dedos de vidro ao chão e partem-se, e depois pões mais um coração no cordel onde guardas os teus troféus... (não o meu, já não lá consta!).

07 agosto, 2009

feita de espuma


Passeio-me nas palavras dos outros e teço carpetes voadoras.

Feito odalisca em contos de mil-e-uma-noites, deixo que o meu corpo e mente se unam no puro prazer sensual das palavras desfiadas, emoções que me navegam na pele, arrepiando-a, descobrindo os véus com que me cubro da nudez.

O som difuso e confuso que se alonga nos meus ouvidos ecoa até à alma, enamorada das cantigas, suspirando pelas janelas dos olhos. Sim, enamorada das palavras, enamorada do amor.
(E)namorada da vida.

Os meus tapetes de odalisca incendeiam-se-me no pensamento, levam-me longe, para além do horizonte, para além deste invólucro lacrado que é a pele, que me sabe agora a Sol e a mar, a sal e às histórias de quem lhe toca, ao de leve.

E sonho.

Sonho muito, dizem-me que me segure, chamam-me do chão, vejo-os a esbracejar, nos olhos o medo que me perca de vez. De mim mesma.

Mas não temam, que sou feita de espuma, pois não vêem?

05 agosto, 2009

il girasole


La vita è un girasole che torna attorno alla luce.

Di volta in volta, le nuvole nascondono il sole, portando l'ombra, il nero.

Il girasole prende questi momenti per scuotere la loro petali, consapevole del fatto che tutto cambia, tutto il tempo, e la luce ritorna nel suo splendore.

Chiaro, scuro, chiaro, scuro.

Abitano in contrasti.

Volteggiando...