29 julho, 2009

dans le chemin de mon corps

Ando por aí, pelas ruas que são minhas.
Descubro-me becos e vielas em veias que eram dantes auto-estradas de candeeiros brilhantes e tráfego fluido.
Persigo-me por entre a multidão que me habita, rostos conhecidos em janelas coloridas, outros desmaiados de sorrisos em altas torres cinzentas, uns em gritos de pura agonia, outros em gemidos do mais franco prazer.
Vou-me destapando a alma, deixando sair o vapor.
Os pés cheios de bolhas enganam-se na direcção muitas vezes, parecem já mendigos de anos a fio em perícias de esmola, são dois velhinhos que na juventude quiseram ser bravos e conquistar o mundo e agoram pisam com cuidado, procurando não estragar a relva cuidada.
As mãos, essas, aprenderam a germinar calor misturado de amor e oferecem-no agora aos molhos, com alegria e leveza. Querem entrelaçar fundo os dedos nesta energia recém-descoberta, querem curar sem para isso terem estudado técnicas cirúrgicas nos livros dos mestres e doutorados. Não, curam pelo amor, e por vezes encolhem-se de medo, e outras vezes descobrem-se em força.
O coração ainda fala de fininho, muitas vezes para orelhas moucas que escutar bem sabem mas quando agir magoa recusam-se a sussurrar às células a mensagem recebida. Por pouco tempo, vá lá. Que isto de não escutar o coração faz mal ao fígado (e aos pulmões, e ao estômago, e às vísceras, enfim...), e eu não quero mais sinais de trânsito vermelhos nestas minhas vias cheias de tráfego. Cada vez mais lento, mais devagar.
Está na hora, e eu sei, porque afinal sempre soube. Está na hora de me (re)conhecer e encontrar em mim a casa que tantos de nós procuram na rua, em outros rostos e corpos ou bens.
E é por isso que sei que nesta estrada não se vê a linha do horizonte mas existem fontes, e campos, e veredas, e bancos de madeira para descansar os velhinhos pés, e que é assim mesmo que deve ser.

27 julho, 2009

Sufocar as palavras


Estou cheia de palavras e não consigo tirar-lhes a tampa, para que se passeiem livres pela casa, e me encham os recantos, e dêem os recados a quem os precisa ouvir.

Faço orelhas moucas ao meu querer, aos meus sussurros, porque tanto me habituei a este "não querer magoar".

Desconheço-me, eu, que me achava dona de alguma força que me valia de abrigo em alturas de tempestade, não encontro, naufrago no meu próprio medo, agarrada que estou a uma tábua que tem o nome "responsabilidade" tatuado.

Sei que não é esta que sou, mas vejo-me encolhida sob o peso do tempo, e do carinho, e da insegurança, e do dever, e de tantas outras palavras que uso para disfarçar e perfumar e maquilhar o que não sei que é, e canso-me das minhas guerras, das guerras que vivem em mim e que descanso não me dão.

Sei que não é para sempre este vaguear indeciso, sei que chega o ponto da irrversibilidade, mas não o vejo nem quero ver lá no horizonte, queria saber que há caminho a fazer antes de lá chegar, queria talvez que o Mundo fosse cor-de-rosa e tudo encaixasse, uma vez só, vá lá, mostra-me que tens asas e pernas e que não sou o teu umbigo, o teu centro, vá lá. Porque esse peso eu não quero e nunca quis, e assim não sei viver.

Não lhe tiro a tampa, não, mas dentro de mim fervem num borbulhar furioso e tento empurrá-las de novo para o chão, para os pés, porque na boca não, no coração não, não.

Dá-me descanso, Universo, deixa-me estar um bocadinho só, sim?

21 julho, 2009

Amor conjugado


O que é o amor, esse a quem prestamos vassalagem e em nome do qual nos reviramos do avesso, tentando reinventar o que somos?

É amor prevaricar a própria alma, é amor negar-nos a nossa essência, para chegar ao outro, para fazer o outro feliz?

É amor consumir-nos de pequenas frustrações, ceder os nossos limites, gozar apenas quando o outro goza, ter liberdade concessionada e condicionada à presença da outra parte?

É utópico pensar que existe alguém que nos liberta a ponto de nos deixar querer voltar ao seu abraço, pelo simples facto de ali nos sentirmos completamente livres?

Até que ponto a vida em casal é saudável, até que ponto não comprometemos o nosso "Eu" por causa do "Nós"? E não será impossível não o fazer, e não será isso de que se fala quando se liberta a palavra amor?

Amar é dar. Mas também é receber.

Mas qual a proporção correcta?

Porque amar não se faz só da conjugação do verbo amor, faz-se de mil e um ingredientes nas doses certas, e é por isso que é tão raro, e é por isso que tantas vezes confundimos o amor, aquele mesmo a sério, com outros sentimentos semelhantes, que secalhar nem têm nome.

Confundimos desejo sexual, atracção intelectual, espiritual, atracção física, carência, necessidade de atenção, orgulho, deslumbramento, idolatria e mais uma data de emoções com esse cavaleiro andante que no fundo passa tão de raspão na nossa vida que por vezes nem damos por ele - o amor.

Não sei se sou a melhor pessoa para falar de amor. Às vezes acho que gosto demasiado de liberdade, do meu espaço, para caber numa vivência a dois. Mas depois penso que também é de liberdade que se faz este sentimento, e que quanto mais me libertam para que eu voe mais eu volto para a segurança do ninho. É na prisão que me perco, que grito a negritude da alma. Não sei estar quando em controlo, só sei estar quando é ali que quero. Posso estar errada, mas é assim que sou.

Não sei.

Mas acho que a felicidade é algo que está dentro de nós, e que não podemos buscar no outro as respostas, como uma injecção de necessidade. Até porque o outro não faz ideia do que necessitamos (e tantas vezes não há diálogo, e se o há faz-se de acusações, mágoas e feridas que tingem tudo de mal-entendidos! como era mais fácil fazer um raio-X à alma, para que nada se perdesse em palavras com sentidos trocados...). E porque não lhe cabe "suprir-nos" nada.

Uma relação não é um casulo, são duas pessoas que já existiam antes de se tentar o "nós". Mas quando um tenta abraçar, apertar demais, invade o espaço do outro, e aí perdeu-se algures o "eu"... Sem "eu" e "tu", como se constrói um "nós"?

Sim, talvez seja utópico pensar que é possível existir uma relação sem mudanças, sem anulações mútuas, por mais minúsculas que sejam. Mas evitar-nos a ponto de não sabermos quem somos... não me convencem disso!

Não sei se sei amar a vida toda, porque acho que a vida se faz todos os dias, e porque promessas não as faço, que já me ensinaram como são vãs.

Sei que amo todos os dias, e que é assim que se vai vivendo.

do cansaço

Quando o cansaço se acumula como um peso de mil anos no corpo, a vida fica mais longe. Fica mais curta, fica mais amarga.
E eu fico impaciente, dura, uma parede de vidro que não deixa passar a luz, o riso, a alegria.
Até as palavras me fogem, assustadas com a dimensão deste ogre em que me transformo. Não as culpo, não lhes tenho carinho agora.
Até pensar me dói.
Até quando vou aguentar, não sei.
Preciso parar.

10 julho, 2009

sou sem voz, sou amordaçada


Foste um dia o mundo,
contado no meu olhar,
foste um dia o corpo que tremia no teu abraço,
foste um dia o laço,
foste um dia o beijo desmedido no vão de escada,
foste um dia o nada,
foste um dia
o sabor do Sol na minha almofada...

... mas as cigarras perderam a voz
as mentiras encheram a caixa de música,
fizeram-me buracos em casa,
e as tuas asas queimaram-se
no perder do tempo que se escoava sem falar....

... hoje mudas de voz para encandear
quem volteia na tua luz (de cera, fingida)...
E eu calo as palavras de aviso
para que não me apontes mais dedos de gelo,
de engano,
para que não me acuses mais das tuas culpas!

... just

08 julho, 2009

language of the Universe


"Sometimes the Universe speaks to you in a strange language, that you do not understand.

Sometimes you are driving in a path, confident, clear minded, your heart filled with joy... and then something happens that throws you off balance, that shakes your entire structure.

You loose your balance, your feet, your heart pumps pure adrenaline into your veins. Your eyes get filled with tears and your thoughts get shatered... You think you don't deserve it, you think you can not get throught it.


But you can, you see?

Just stop, and breathe for a bit, then think about this new challenge and the reason for it. There must be one. Maybe a sign, maybe a warning.

When you're calm, meditate. A solution will be born in your heart. He will know which path to choose from here. The footsteps that you will have to take.


Remember, this is your way. This is your life, precisely as it should be.

Love yourself. Love your inner strenght.

You will be allright."


This is what I keep telling myself.

07 julho, 2009

luz

"I have a dream, a fantasy
To help me through reality
And my destination
makes it worth the while
Pushing through the darkness
still another mile
I believe in angels
Something good in everything I see
I believe in angels
When I know the time is right for me
I'll cross the stream
I have a dream"


Todos os dias me maravilho um pouco mais com este lugar.

Vejo com os olhos de quem caminha por estes trilhos há séculos, com as pernas recém estreadas mas na alma impressa a memória do que já vi e vivi. Memória das minhas células mas que desconheço, e se me revela aos poucos, como fugazes eclipses de saber.

É meu desejo ser veículo de luz e amor nesta minha breve passagem, plantar calor, oferecer colo.

Agradeço aos meus pais por me permitirem o nascimento, por me nutrirem com carinho, compreensão e ternura, por me guiarem em direcção a quem hoje sou.

Procuro-me, ainda, sei que há em mim pedaços inexplorados e virgens, sei que há centelhas divinas que preciso tocar com as pontas dos dedos... mas já não corro contra o tempo. Não, agora caminho, apenas. Caminho e escuto, e aprendo a amar. Aprendo a dar, também a mim.


Aprendo a ser aquilo que nasci para ser (como, aliás, todos vós que não o sabeis!) - um traço de Luz.

To sleep


Estou terrivelmente cansada.

O corpo queixa-se das noites sem dormir, queixa-se de o forçar a continuar apesar da falta evidente de energia e de descanso.

(desenganem-se os que estão a pensar que embarquei nalguma actividade nocturna de alto desgaste... seja ele físico ou mental)

Já tentei de tudo para atrair o sono que se me escapa dos dedos que o perseguem. You name it, I've done it.

É que eu até me deito com o dito cujo (leia-se, sono) bem enroscadinho a mim... só que o safadinho adquiriu a nefasta mania de, cada vez que me vê assim mesmo prontinha para embarcar num zzzzzzzzzzz mais profundo, largar-me assim, sem mais nem ela, desamparadita... e completamente desperta!

Digo-vos, é desesperante. Tão desesperante que nem escrever de jeito já consigo, e ando para aqui a deitar estas parvoíces para o papel (perdão, écrãn).


Volta, Joãozinho (Pestanudo), estás (a)perdoado! Dá-me uma noitezinha de tréguas, prometo ser uma boa menina, sim? Sim? Pleeeeeeeease....

01 julho, 2009

Cigana


Sou cigana.

Nos meus pés sandálias de corda, nos braços pulseiras e chocalhos que tilintam à minha passagem.

Caminho orgulhosa das minhas raízes, do fogo que me mora no corpo.

Sou cigana errante, moro em todo o lado e em lado nenhum, a ninguém me prendo ou me vendo, nem alugo os meus sentidos e o meu sentir.

As roupas coloridas cobrem-me a pele morena com os tons da vida, numa explosão de cor. No peito, o corpete justo, afeiçoado aos seios que ainda pendem com graça.

A minha boca vermelha, adocicada, contrasta com o negro cheio dos meus olhos, onde quem comigo se cruza percebe a força da minha raça, do meu querer.

Tenho cicatrizes da vida espalhadas no ventre e no corpo, são as minhas tatuagens, que deixo os meus amantes fortuitos acariciar, questionando-se. Não lhes respondo, porque abri-las seria ofertar o coração, e esse não posso mais doar, amarrotou-se quando me morreu o meu filho nos braços, e com ele o enterrei na terra.

Li a minha sorte nas linhas da minha mão, arte que me ensinou a minha avó materna e que uso para comer, vendendo sinas aos que ma pedem, e sei que este meu corpo ainda tem muitas luas para carpir, mas que a alma mo desabitou já, fugindo para outras paragens.

Talvez a recupere, aos pedaços, quando o corpo se entrega na dança flamenga que me corre nas veias, e encontra uma alegria modesta e fugaz; talvez um dia a encontre na beira da estrada por onde caminho, quando o teu beijo ma fizer encarnar de novo no peito.

Sei que estás por aí, tu que me fugiste quando a dor nos atingiu sem aviso, como um ladrão no escuro da noite.

E dizem-me os traçados na palma que os meus passos, dados com certeza, com passado, com suavidade, mas nunca a medo, me levam, linha a linha, até ti....