
- Não, sabes que não queres partir. Sabes que me dizes isso apenas para que te impeça, para que te prenda a mim, em mim, um instante mais (a frieza na voz, a calma distância, a madrugada a nascer por detrás das costas nuas, a cama em desalinho).
- Quero, tenho força! Vai-me doer, vai-me custar, mas vou-me libertar de ti, de ti que és apenas ilusão, que és apenas mentira, que és apenas o descanso de um fugaz minuto que pago com o desespero da alma (a coragem em ondas mareadas em crescendo, o corpo soluçado, lentamente, a erguer-se do seu estupor, a libertar-se das suas amarras, a crescer).
- Vais viver sem mim? Que mais tens? (certeza cortante e fria nas palavras, quase se lhes sente a textura áspera, o metal gelado no timbre).
- Tenho-me a mim.
Lentamente, afasta as lágrimas dos olhos negros, fixa o tecto, sente os músculos relaxar, o pesadelo como uma memória que ganha distância.
Vai viver.
2 comentários:
Luz, que intenso!!!
E sim, temo-nos a nós! Dentro de nós está a nossa felicidade, a nossa razão de viver!
Gostei muito do teu texto!!!! :)
E obrigada pela visita lá na selva! :)
Bem-vinda, volta quando quiseres! :)
Beijitos
Obrigado, Fada :)
Vou voltar à selva, sim, gostei muito de lá estar!
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